sábado, 27 de fevereiro de 2010

Parte IV- Conheça a Ti Mesmo
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Tânia deu muitas dicas a Marta. Explicou que ela deveria perder um pouco mais de tempo,tentando se conhecer. Ouvir suas indagações e procurar entender o que falava seu coração.
Tenta saber quem estava falando mais forte. Se era o ódio ou o carinho.
Não se preocupe muito com a opinião das pessoas. Viva cada uma de suas necessidades.
Um passo de cada vez, pensou Marta. Um passo de cada vez.
Meia hora depois que chegou a casa, Pedro ligou novamente e disse apenas.
Pego-te em meia hora, quero você sem calcinha vestindo uma saia curta e sandália de salto alto.
Marta pirou. E se as pessoas percebessem?
E se ela caísse na rua mostrando os todos que estava sem calcinha?
Depois de muitas dúvidas, resolveu atender em parte o que ele tinha mandado. Colocou saia curta e sandália de salto alto, mas não conseguiu sair sem calcinhas.
Quando ele a pegou no portão, sentiu na sua expressão que alguma coisa estava errada.
Como sempre, desceu do carro, acompanhou-a até a porta. Depois, tomou seu lugar, colocou o cinto de segurança e saiu devagar.
Deu algumas voltas na cidade e depois parou num lugar mais calmo e disse:
Levante a saia.
Marta sentiu seu rosto corar de vergonha. Não era vergonha de levantar a saia mas de ter que confessar porque não o obedecera.
Estou esperando, disse Pedro.
Ela levantou a saia e ele a olhou nos olhos.
Qual era o seu medo quando me desobedeceu?
Fiquei com medo que o senhor me levasse num local com escadas e eu tivesse que me expor quando subisse. Ou mesmo que me fizesse esperar em alguma esquina e eu ficasse exposta aos olhos dos outros.
Pedro não disse nada. Ligou o carro e a deixou na sua casa.
Ela agora estava arrependida. Lembrou das coisas que Marta tinha lhe dito. De aproveitar a brisa calma que acarinhava seu rosto ou preparar-se para um furacão. Ela ficou com a segunda opção. Agora sabia disso e se sentia arrependida.
Nos próximos três dias, não teve telefonema nem e-mail. Ela estava desesperada. Será que ele não a procuraria mais?
Será que tudo estava acabado?
Na sexta feira à noite, contudo o celular tocou.
Seu coração quase parou na boca.
Do outro lado, ela ouviu sua voz que dizia somente. Amanhã te pego ao meio dia. Esteja pronta.
Meio dia lá estava ela esperando por ele no portão.
Um carro foi se aproximando, mas ela não o reconheceu naquele conversível. Ele parou, desceu do carro, conduziu-a até seu assento e como sempre, tomou seu lugar ao volante Ele não disse nada e ela não ousou perguntar para onde ia.
Um pouco tempo estavam na rodovia. Ele dirigiu mais de uma hora, depois se virando para ela disse:
Tire a calcinha, levante a saia até a cintura e coloque os dois pés em cima do banco.
Ela estremeceu.
Ela tirou a calcinha assustada e entregou em suas mãos. Ele colocou dentro da porta luvas. Depois mandou que ela levantasse a saia e colocasse os dois pés no banco.
Marta olhou para ele implorando. Por favor... Disse ela. Isso não.
Ele parou o carro no acostamento, pegou o chicote e chicoteou suas pernas com força.
Ela colocou os pés em cima do banco e ele voltou para a rodovia.
De repente, percebeu que Pedro abaixou totalmente a cobertura. Ela estava exposta. Abaixou rapidamente a perna e ele entrou no motel mais próximo.
Antes mesmo de ela entrar no quarto, já sentia a dor do chicote em suas pernas.
Vamos voltar para aquela rodovia e você vai fazer o que eu mandar. Chorando, concordou.
Saíram imediatamente do motel e voltaram para a rodovia. Ela colocou os pés em cima do banco bem juntinhos.
Ele arreganhou suas pernas e disse: É assim que ela vai ficar durante todo o percurso.
Ela chorava, enquanto ele corria pela rodovia.
Quando Marta percebeu que um ônibus se aproximava, suplicou para que ele a deixasse fechar as pernas, mas ele se manteve impassível.
O ônibus encostou-se ao carro e podiam-se ouvir os gritos das pessoas lá dentro.
Ele foi diminuindo a marcha, e o ônibus se distanciou.
Parou novamente o carro e mandou que ela enxugasse o rosto.
Depois, mandou que ela arrumasse sua roupa e abaixasse as pernas e falou.
Quando eu digo que não vou fazer uma coisa, não vou fazer. Contudo se eu lhe disser que vou fazer, nada me impedirá.
Foi a ultima vez que isso aconteceu. Se você não obedecer mais as minhas ordens, não a procurarei mais.
Marta nunca sentiu tanto medo.
Maior que o medo de ficar exposta, foi o pavor que sentiu da possibilidade de perde-lo. Ela nunca o tinha visto tão sério. Sabia que se quisesse ficar com ele, tinha que aprender a confiar. Ele a levou para casa, sem dizer mais uma só palavra.
Tânia tinha razão.
Entre o ódio e o carinho, sem duvida o carinho ganhava e ela não queria perdê-lo.
No fundo não conseguia entender a gama de sentimentos contraditórios que fervilhavam dentro de si mesma.
Quem era ela?
Lembrou-se de um livro que leu tempos atrás cujo título era. Conhecer para respeitar.
Sim, ela precisava conhecer aquilo que foi definido para ela como sadomasoquismo por Tânia.
Se outras pessoas viviam essas mesmas verdades, então ela não era suja, sem caráter por sentir dentro de si tantas coisas que não conseguia explicar. Seus sentimentos tinham explicações. Ela ia assumir a sua verdade, mesmo sabendo que poucas pessoas tinham essa coragem. Essa vontade de pertencer sem precisar pertencer, de ter um dono, mesmo sendo independente, de gozar por entre dores e lágrimas.
O primeiro caminho seria a internet.
Marta estudou conceitos, ações e reações. Conversou com muitas pessoas e percebeu que não estava sozinha no meio daquele turbilhão de emoções.
Muitos homens e mulheres se submetiam para ter prazer. Muitos homens e mulheres eram dominadores com o mesmo objetivo
Percebeu que este caminho era difícil porque uma pessoa tinha que ser muito forte para se submeter a alguém.
Era um paradoxo, mas para ser escrava ou escravo, a pessoa tem que ter dentro dela muito claro o sentido de liberdade.
Muitas pessoas são escravas por covardia, por medo. Por não saber como enfrentar a vida sem esta ou aquela pessoa, todavia, só a pessoa totalmente livre pode entregar para alguém a sua liberdade.
Queria estar com pessoas assim. Conversar com elas e trocar experiências.Naquela noite, Marta navegou fundo dentro de si mesma e resolveu viver suas emoções

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